O Resgate do Cacique Vermelho, de O. Henry
Dois foras-da-lei decidem sequestrar um garotinho, dispostos a ganhar muito dinheiro com o resgate. O que eles não esperavam é que o pirralho escolhido fosse um verdadeiro capeta, perfeitamente capaz de fazer deles gato e sapato. É algo bem na tradição de Denis, o Pimentinha e Esqueceram de Mim. Entre risadas e nostalgia, O Resgate do Cacique Vermelho é daquelas leituras que te transporta para o passado e te deixa com gostinho de quero mais.
O Gato Brasileiro, de Sir Arthur Conan Doyle
O Gato Brasileiro é uma história de terror que nada tem de sobrenatural. Marshall King, o narrador do conto, descobre-se em maus lençóis - financeiramente falando. O que é um tanto irônico, a se considerar que ele é o herdeiro presuntivo de um título de nobreza e toda a fortuna adjacente ao mesmo. Assim é que Marshall decide tentar a sorte com outro parente rico, o primo Everard, que acaba de chegar de uma viagem ao exterior e trouxe consigo uma variedade de animais e plantas exóticos - incluindo o felino do título.
O Homem-Abelha de Orn, de Frank Richard Stockton
É uma história sobre identidade, quiça, sobre destino: a forma como os outros nos enxergam, o que eles acham que devemos ser e o que está realmente em nosso âmago. O homem-abelha do título pode até se deixar levar pelas afirmações arrogantes do mago, mas, ao final, segue seu destino e vocação.
O Capote, de Nicolai Gógol
O Capote se inicia bastante prosaico: funcionário pobre de repartição pública está com casaco de inverno imprestável e precisa encomendar um novo antes que o inverno chegue. A duras penas economiza, reunindo-se sempre com seu alfaiate para criar um novo capote - algo que acabará por se tornar uma obsessão e serve de elemento cômico da história.
A determinada altura da narrativa, contudo, há um desvio para o sobrenatural e, embora o final ainda provoque algum riso nervoso, é inegável sua dimensão trágica. Sob o verniz simples, esse é pois um conto sobre miséria e pobreza, sobre pessoas pequenas (em mais de um sentido) e falta de empatia. Tragicômico, de fato.
A Porta no Muro, de H. G. Wells
Um jovem, ao longo da vida, depara-se diversas vezes com uma misteriosa porta verde num muro branco - uma passagem que ele atravessa uma única vez, quando bem criança, deparando-se com um jardim de delícias que bem poderia ser identificado com o Paraíso.
Há algo de indescritível, de inefável, na forma como Wells constrói os encontros de Wallace com a porta, sempre em momentos-chave de sua vida. O desejo pelo que existe por trás dela digladia-se com suas responsabilidades e ambições, e ele continuamente a deixa para trás - ao menos, até que o encanto indizível daquele jardim se sobreponha às expectativas sociais com que ele tenta se conformar.
Os 47 Rônins, de Barão Algernon Bertram Freeman-Mitford
Mitford adota aqui um tom quase jornalístico e uma narrativa bastante contida para um evento tão grandioso.
O mais interessante é que, ao mesmo tempo que há um certo distanciamento na forma como o autor conta a história, ele consegue de fato nos transportar ao cenário que ergue nessas páginas - e faz isso sem fetichizar o exótico, pecadilho de muitos que tentam trazer algo do estrangeiro para sua obra. O ritmo seco e minimalista é suficiente para provocar o exato estranhamento de adentrar uma cultura tão diferente da nossa. Talvez, não fosse anunciado o autor, eu tivesse acreditado estar lendo um relato escrito por um japonês, e não filtrado pelas lentes de um inglês.
A Filha de Rappaccini, de Nathaniel Hawthorne
Em seu jardim de plantas venenosas, Giacomo Rappaccini cultiva mais que objetos de pesquisa médica: aqui floresce também sua bela filha que, criada desde a primeira infância entre tais venenos, não apenas se torna resistente a eles, como ela mesma se converte numa criatura tóxica. A despeito disso, sua beleza e modos gentis conquistam a afeição do estudante recém-chegado a Pádua, Giovanni, cuja janela dá para o perigoso jardim.
O Sonho da Sultana, de Rokeya Sakhawat Hossain
Utopia feminista em que um reino - semelhante a países islâmicos mais extremistas na forma como tratam as mulheres - passa por completa revolução após uma guerra desastrada levar os homens a se recolherem à esfera privada, deixando os negócios da vida pública em mãos femininas. Paz, prosperidade e notável avanço tecnológico são apenas alguns dos ganhos com a inversão de papéis.
O Bebê de Desirée, de Kate Chopin
O Bebé de Desirée trabalha com discriminação racial.
Para um conto tão curto, o impacto dele é bem forte; talvez o mais inquietante de todos os contos até o momento. A forma como a ignorância acerca do passado de Desirée nos leva a conjecturar sobre sua descendência e a revelação final do segredo do jovem e apaixonado Armand são conduzidas de forma genial.
A Aventura do Carbúnculo Azul, de Sir Arthur Conan Doyle
Temos aqui Sherlock Holmes, numa aventura das mais leves e divertidas do cânone holmesiano, envolvendo um chapéu, um ganso e uma descoberta curiosa no papo da ave. É uma história sem grandes tensões e perigos para o detetive e o fiel doutor Watson, mas nem por isso menos inteligente na maneira como conduz o mistério.
O Experimento do Doutor Heidegger, de Nathaniel Hawthorne
Se você tivesse a chance de voltar ao seu corpo da juventude, mantendo as memórias e experiências de toda uma vida, será que cometeria os mesmos erros do passado? O Experimento do Doutor Heidegger dá uma resposta bem amarga a essa pergunta.
Na superfície, trata-se de um conto curioso sobre uma fonte da juventude e de um grupo de conhecidos que se reúne com o doutor do título e acaba servindo de cobaia para uma experiência social instigante.
O Terceiro Ingrediente, de O. Henry
Mais um conto bem humorado de O. Henry. Temos aqui uma narradora faminta e um casal de amantes perdidos que, por uma série de coincidências - e cada um levando consigo um ingrediente - acabam por se entrecruzar, até saciarem mais do que o apetite por um bom ensopado.
Hetty Pepper acaba de perder seu emprego. Com seus últimos centavos, compra uma bela costela, planejando fazer um ensopado que a ajude a se fortalecer antes de sair em busca de um novo trabalho. Mas nem só de carne vive o homem e ela suspira e suspira por batatas e cebolas para completar a refeição. E aí uma de suas vizinhas tem apenas batatas para o jantar, e uma história de desencontros para contar...
O Garoto do Dia e a Garota da Noite, de George MacDonald
Um belo conto de fadas de George MacDonald - um dos autores que são considerados pais da fantasia moderna -, no qual uma bruxa decide, por razões não explicadas, criar duas crianças, uma inteiramente crescida no sol e outra recolhida a uma eterna escuridão.
Fotógeno, filho da Aurora, é um herói solar, caçador valente e infatigável, que, ao descobrir a existência da noite, mergulha no desespero e no terror. A ele foi dada a liberdade dos campos e, até se ver fora do castelo da bruxa no crepúsculo, Fotógeno nada tinha a reclamar de sua criação. Já Nycteris, filha de Vésper, foi criada presa no subterrâneo, mantida na completa ignorância do mundo exterior, solitária e esquecida. Ao descobrir uma passagem para fora de seus aposentos, Nycteris é confrontada com uma luz que não sabe explicar, mas que tenta descrever com o vocabulário limitado de sua reclusão.